Pós pandemia – Os desafios das cadeias de Abastecimento Globais

Da mesma forma como as interrupções das cadeias de abastecimento ocorreram de maneira sincronizada na maior parte do globo no início do ano passado, o mesmo é válido para o movimento de retomada econômica no cenário pós pandemia.

As empresas das economias desenvolvidas nos últimos meses foram forçadas a operar com estoques baixíssimos e pela falta de previsibilidade de demanda, somada às incertezas de mercado, foram direcionadas a retirarem as programações de pedidos junto aos seus fornecedores, ocasionando um impacto sistêmico nas respectivas cadeias de abastecimento.

De acordo com a OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, as exportações brasileiras aumentaram 29,4 % entre o primeiro e o segundo trimestre de 2021. As exportações russas cresceram incríveis 30,7%.

O que esses países têm em comum? Ambos são grandes exportadores de commodities, beneficiando-se de uma tripla combinação de preços crescentes, oferta global limitada e forte demanda. Além disso, é preciso considerar uma atratividade maior ao comércio internacional pela valorização do dólar.

Muitos países emergentes ao migrarem a sua estratégia comercial para clientes externos, em função da maior atratividade cambial (receitas em dólares), diminuíram a disponibilidade de insumos e serviços nos mercados internos. Com isso, houve um aumento forçado de preços a partir da concorrência pelas carteiras e programações de vendas das empresas com maior vocação para a exportação.

Exportações globais superam os níveis pré pandemia

 

Exportações globais superam os níveis pré pandemia

Com relação ao cenário logístico global, a pandemia do Covid-19 destacou que os portos precisam de novos investimentos e incrementos em eficiência operacional. Os sistemas de infraestrutura portuárias ficaram sobrecarregados no ano passado, onde diversas regiões apresentaram aumento nos custos, tanto para os exportadores quanto para os importadores.

Atualmente existem, por exemplo, 353 navios porta-contêineres parados fora dos portos em todo o mundo. Ou seja, mais que o dobro do número do início de 2021.

 

Disrupções na oferta de containers – Número de navios na espera para atracar nos portos em Agosto/2021

 

Disrupções na oferta de containers

Em agosto de 2021 foi divulgado o cenário atual das commodities metálicas e os preços do cobre e do alumínio; que atingiram seus níveis mais altos em 10 anos. À medida que a demanda global por materiais e serviços voltou a crescer, o impacto foi imediato. Com isso, a recuperação do período da pandemia tem se dado desde materiais elétricos, a embalagens. Os preços do alumínio, por exemplo, subiram 31% em 2021, atingindo, recentemente, uma alta de fechamento de US $ 2.615,oo.

A alta dos preços é um alívio bem-vindo para uma indústria que tem sofrido por anos o excesso de oferta em meio à expansão implacável da China. As ações das maiores produtoras de alumínio do mundo subiram dois dígitos neste ano, com a Alcoa subindo 68% e a europeia Norsk Hydro, 47%.

Variação dos preços do Alumínio e Cobre ($/Ton) nos últimos 10 anos

Alumínio

Alumínio

 

 

 

Cobre

Cobre

 

 

 

 

Repassar os custos para o próximo comprador na cadeia de suprimentos, seja para a revenda ou até mesmo ao cliente final é o principal objetivo dos fabricantes nesse momento. Mas isso pode ser menos atraente para empresas que tentam manter os preços competitivos para reter ou ganhar participação de mercado.

Contudo, nem todos os aumentos de custos são inevitáveis. Os compradores sempre têm a capacidade de negociar com os fornecedores e gerenciar as pressões inflacionárias com ferramentas como surcharges, por exemplo, que podem ser removidas posteriormente e exigindo que os fornecedores forneçam uma abertura maior dos seus custos.

Se as empresas não conseguem repassar os custos, elas consideram táticas como fornecedores alternativos, automação de processos ou até mesmo a tradicional prática do cherry-picking.

Entretanto, as empresas que buscam a mudança de fornecedores precisam considerar o custo da mudança. Algumas empresas podem procurar fornecedores próximos, quanto possível, no mercado atual, em uma tentativa de reduzir os custos logísticos.

O mais importante agora é a confiabilidade e a resiliência das cadeias de abastecimento. A grande questão a ser respondida pelos profissionais de Compras nesse momento é: “Quão confiável é o abastecimento das suas fontes atuais?”

Fonte: FT/LME