A instabilidade política no Brasil já impacta a economia nacional desde 2008 e agora soma-se a isso uma desafiadora crise de saúde pública mundial
Um ambiente politicamente instável afeta a variável mais dinâmica de uma economia que é o investimento, que por sua vez é o que gera efetivamente crescimento econômico e produtividade.
O empresário ou investidor observa o cenário atual e também um horizonte de longo prazo; logo, quanto mais previsível for esse horizonte maior será o incentivo ou a motivação para fazer esse investimento. Sendo assim, quando existe um cenário de instabilidade política e econômica, tendem a retroceder na decisão, buscando ambientes ou momentos mais favoráveis ao investimento.
Dificilmente alguém entra em um jogo onde as regras podem mudar do dia para noite, com isso a instabilidade política no Brasil tem gerado insegurança nos potenciais investidores, independente de área ou setor, por não conseguirem vislumbrar retorno, além do risco de mudanças de regras, inclusive legais no curto, médio e especialmente longo prazo. Isso impacta diretamente o aporte de recursos, o que prejudica exponencialmente o desenvolvimento econômico do país.
Quando falamos aqui em investimento, estamos tratando de maneira ampla, ou seja, tanto na questão de novos negócios que geram emprego e renda quanto na questão de ações, ativos e produtividade. Por maior que seja o retorno esperado e previsto, empresários e investidores irão sempre avaliar os riscos diante de um cenário politicamente instável.
Todo negócio é pautado no planejamento estratégico e plano de negócios, que leva em consideração as estimativas de custos, previsão de receitas, entre outros fatores. Esse plano é pautado na legislação de onde se está fazendo esse investimento. Em um ambiente politicamente instável, onde a própria legislação pode sofrer alterações, acende-se um sinal de alerta e com isso, uma economia sem investimento não cresce substancialmente.
Durante entrevista com o diretor geral de uma empresa de telecomunicações, conseguimos um exemplo prático de como isso pode funcionar:
“Imagine que nós temos uma nova tecnologia para o setor de telecomunicação onde precisaremos investir para implantar essa tecnologia, fazer um aporte para insumos, custo de equipamento e pessoal, saber quanto o consumidor estará disposto a pagar ou terá condições de bancar. Tudo isso é quantificável. Porém o risco de atuar em um ambiente com um cenário político onde “as regas do jogo” mudam a qualquer momento; onde hoje você tem uma lei por exemplo, que determina uma carga tributária ‘x’ e de repente essa carga tributária dobra, fica muito complicado conseguir um investidor. Enfim, a estabilidade política é fator determinante para que se tenha investimento em uma economia e o investimento faz a roda da economia girar.”
Mediação de Crise
O caminho de gerenciamento de crise é sempre desafiador. Soma-se isso ao fato de que atualmente no Brasil existe o enfrentamento de muitas crises simultâneas, o que torna a situação ainda mais complexa. O país já vinha em processo de recuperação econômica, com grandes expectativas em relação às principais reformas em tramitação no Congresso Nacional.
Em seguida – e de forma inesperada – instalou-se uma crise na saúde em consequência da pandemia do COVID-19, o que está repercutindo diretamente na economia, causando recessão e estimativas incertas, visto que não existe ainda prognósticos assertivos em relação a pandemia, nem mesmo a nível mundial. E, em paralelo há ainda uma crise política causada pelas incertezas em relação ao atual governo.
Para conseguir mediar a crise de saúde e a situação econômica e política, o Brasil precisa olhar o todo e tratar a situação de forma multidisciplinar. Buscar alinhamento entre o conhecimento científico e a ciência econômica é uma maneira de enxergar caminhos criativos e soluções para os problemas enfrentados, especialmente nesse momento de crise aguda.
“Qualquer ação ou medida que retire as barreiras para facilitar o comércio internacional será benéfico para a economia e deve ser feito com critérios”, comentou o diretor geral entrevistado pela nossa equipe. As barreiras tributárias ou alfandegárias, por exemplo, funcionam como uma fonte de ineficiência, disse ele, que considerou ainda a desburocratização do comércio exterior como uma medida que pode ajudar no caminho para gerenciar e enfrentar a atual crise econômica; no que tange aos tributos, impostos e outros.
Por fim, a parceria público-privada no Brasil tem se mostrado um caminho possível e viável para equilibrar a conta entre receita e despesa do Estado, garantindo um pouco de fôlego para o mercado nacional por gerar ganho de eficiência na economia.
Porém, qualquer previsão feita neste momento certamente é futurismo. O momento é de cautela, mas com busca por opções de como fomentar a economia aliadas às necessárias medidas de saúde para a contenção da pandemia.