Apesar de ser o sistema que conhecemos que mais gera prosperidade, valor e desenvolvimento, o capitalismo não tem uma reputação muito positiva para boa parte da população mundial. O capitalismo é, muitas vezes, acusado de aprofundar desigualdades, concentrar riqueza e de ser um mecanismo injusto com a maioria das pessoas.
Casos como o da Enron, ocorrido nos EUA no início dos anos 2000, ilustram muito bem esta percepção já que mostram o lado mais egoísta e antiético que o capitalismo pode ter.
Para os que não se lembram, os diretores da empresa ludibriaram de forma premeditada, com a conivência da Arthur Andersen, uma das maiores empresas de consultoria e auditoria da época, seus funcionários, clientes, fornecedores e o mercado de capitais mais respeitado do mundo. Eles inflaram artificialmente o valor da Enron para vender as ações da empresa a um preço muito acima do real e desapareceram com bilhões de dólares deixando investidores e acionistas de mãos vazias.
A falta de um propósito real leva muitas empresas a terem a tendência de ignorar o fato de que elas estão inseridas num contexto muito maior. Assim como, a própria relação com todos os stakeholders associados ao negócio expande a importância da atuação delas. Portanto, um propósito real ajuda as empresas a entenderem que a obtenção de lucro é apenas parte do que elas têm que conseguir.
Triple Bottom Line
A ideia foi proposta por John Elkington, um consultor de sustentabilidade britânico, na década de 1990 e consiste em que uma empresa deve pensar no seu resultado sob três aspectos para ser sustentável. E aqui pontuo “sustentável” no sentido de ter perenidade e ser relevante no longo prazo:
Financeiro – geração de lucro, resultado econômico positivo.
Pessoas – desenvolvimento do capital humano da empresa e de todos os stakeholders relacionados ao negócio dela.
Planeta – políticas de sustentabilidade ambiental.
Os diretores de uma empresa precisam, portanto, buscar o equilíbrio entre os lados deste tripé de sustentabilidade de forma que nenhum deles esteja em desvantagem em relação a outro. Esta é a base do que se conhece hoje como ESG.
A transição para uma mentalidade Triple Bottom Line leva tempo. Pouquíssimas empresas contam atualmente com uma política ESG minimamente abrangente. Na implementação dessas políticas surgem questões como: de que maneira integro a cadeia de fornecimento às práticas ESG internas? Como vamos quantificar os benefícios gerados por estas práticas? E que parte da remuneração dos colaboradores da empresa devem vir de objetivos não financeiros para que tenhamos todos engajados na busca de resultados equilibrados segundo o conceito Triple Bottom Line?
Há que buscar quais práticas ESG fazem mais sentido ao negócio, como:
- Criar critérios de contratação de fornecedores que incluam requisitos ESG;
- Praticar o fair trade com clientes e fornecedores e procurar transparência em todas atividades da empresa;
- Buscar ter um quadro de colaboradores mais diversificado em todos os aspectos;
- Procurar formas de otimizar o uso de recursos naturais;
- Geração própria de energia limpa.
Mas não há mais como o executivo ignorar as questões ESG para que a sua empresa seja perene e continue relevante.
Buscar somente geração de lucro não é suficiente. Deve-se perguntar qual é o propósito da empresa que ele lidera. Por que ela existe. E saber que é o propósito que gera lucro, não o contrário.